Mestre Pastinha nasceu em cinco
de abril de 1889, descendente de pai espanhol e mãe baiana, foi batizado em
1889 com o nome de Vicente Joaquim Ferreira Pastinha na cidade de Salvador-Ba.
Conta-se que o princípio de sua vida na roda de capoeiragem aconteceu quando
tinha oito anos, sendo seu mestre o africano Benedito, o que ao vê-lo apanhar
de um garoto mais velho, resolveu ensinar-lhe as mandingas, negaças, golpes,
guardas e malícias da Angola. O resultado veio logo aparecer, Pastinha nunca
mais fora importunado por ninguém. Mestre Pastinha serviu na Marinha de Guerra
do Brasil, onde permaneceu por um período de oito anos. Mestre Pastinha de tudo
fez um pouco, trabalhou como pedreiro, pintor, entregava jornais, tornou conta
de casa de jogo; no entanto, o que mais gostava de fazer era ensinar "a
grande arte". Pastinha conhecia a capoeira, sabia como era importante
continuar aquela cultura, aconselhava que era preciso ter calma no jogo
"quando mais calma melhor pró-capoeirista", e que a capoeira
"ela é o pai e mãe de todas as lutas do Brasil". Sabia muito bem os
fundamentos e os segredos existentes na capoeiragem, cantava, tocava os
instrumentos e ensinava como um verdadeiro mestre deve fazer. Pastinha foi nas
rodas de capoeira um autêntico mestre, um bamba na luta. Saindo da Marinha em
1910, inicia sua fase de professor de capoeira, seu primeiro aluno foi Raimundo
Aberrê, este se tornou um exímio capoeirista, conhecido em toda Bahia. Segundo
Mestre Pastinha, sua primeira academia ficava localizada no Largo do Cruzeiro do
São Francisco, na rua do meio do terreiro. Pastinha dizia: "A capoeira tem
muitas coisas. Primeira parte; a capoeira tem seu dicionário; segunda parte:
tem seu dicionário; terceira parte: tem seu dicionário e quarta parte: tem seu
dicionário". Ensinava que quando alguém fosse falar sobre capoeira
dissesse somente o que sabia, "não vá dizer que a capoeira é o que ela não
é, nem vá contar o que não viu ninguém falar, então, não vá contar aquilo que
não pode contar. Não é todo mundo que vá abrir a boca e dizer eu conheço a
capoeira, a capoeira é isso. Nem todos mentais, nem todos os sujeitos podem
abrir a boca para cantar o que é capoeira não". Mestre Pastinha era uma
pessoa bem humorada, descontraída, bastante receptivo, rico em conhecimento,
seu saber transcendia as rodas de capoeira. Era uma pessoa do mundo ideal,
camarada amigo, pai e irmão dos discípulos. Viveu intensamente seus longos anos
dedicados à capoeira de Angola, classificou-se na história da malandragem, da
malícia, como ás. Manteve em sua academia de Angola, a originalidade da
eficiência da luta em momento algum fora perdido na academia de Pastinha. Ele
contribuiu categoricamente com o seu talento e dedicação à capoeira para que a
sociedade baiana e brasileira percebesse a capoeiragem como uma luta-arte
imbatível, guerreira, que está além dos paupérrimos preconceitos que há na
sociedade. Vicente Pastinha foi filmado, fotografado, entrevistado, gravou
disco e deixou um livro, a capoeira nunca mais poderá esquecer este ás, o
guardião da capoeira Angola. Foi lá na casa 19, no largo do Pelourinho que
funcionava a sua academia, o Centro Esportivo de Capoeira Angola fundada em
1941. Milhares de pessoas estiveram na academia, ficavam impressionadas com as
cantorias, com o som dos berimbaus, pandeiros e agogôs e principalmente, com os
jogos que lá rolavam. Por fim, foi feita uma reforma n sobrado, disseram ao
mestre que ele não tinha com o que se preocupar, depois de terminadas as obras,
ele voltaria lá, seu lar, sua academia. Nunca mais se ouviu a voz de Pastinha
dentro do velho sobrado. O Mestre Pastinha não voltou, morreu na escuridão de
um quarto decadente no bairro Pelourinho em Salvador.
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